segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Mamãe avisa-me que fez ontem um ano que entrei nesta casa pela primeira vez. Seis dias antes vira as minhas últimas três ou quatro casas e atingi, claramente, o meu ponto de saturação. Vi umas 8347 casas, basicamente tudo o que havia para ver nesta cidade. Gostei de algumas, detestei quase todas. Não procurávamos uma casa, mas sim A casa. Lembro-me exactamente da roupa que usava nesse dia, camisola e cachecol verdes, casaco preto com capuz de pêlo, calças de ganga justas e as minhas texanas de salto alto. Quando cheguei a casa descalcei as botas e com elas todo o meu entusiasmo.
Passados dois dias a minha irmã veio visitar esta casa. Eu tinha-me descartado dessa função, estava farta de casas, trabalhava longe, começava de noite, acabava e já era noite outra vez e o único tecto que tinha sobre a cabeça era o do carro, durante os dez minutos que levava a comer o almoço que levava de casa. Desisti completamente da cena das casas. Por esses dias vi uma garça, lá em cima, no cimo da serra. Um animal maravilhoso, deu umas voltas por ali, pousou perto das máquinas, tirei-lhe umas fotos. E comecei a sonhar com uma casa branca.
A minha irmã chegou a casa excitadíssima, fez uma planta, explicou-me qual era o quarto dela, qual era o meu, e consigo imaginar a minha cara, como num espelho, a imagem do enfado, sim, sim, pois claro... Mas ela deve ter insistido o suficiente para me arrancar do meu desânimo e lá vim espreitar a barraca. E pronto. Até hoje. É muito estranho imaginar esta casa como a vi pela primeira vez, toda branquinha e a cheirar a novo. Vejo-me como num videoclipe, a tirar medidas, a fazer limpezas, as primeiras cervejas que comprei, montada em cima dum balde virado ao contrário a lavar armários.... A minha casa. Linda. Valeu a pena.

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