domingo, 30 de janeiro de 2011

Há muito tempo atrás, uma tarde de sábado, recebi uma visita surpreendente, embora não inesperada. Fazia calor e eu lembro-me que tinha vestidos apenas um top preto de alças e umas calças, também pretas, e estava descalça. O meu cabelo, sempre tão selvagem, tinha acordado estranhamente obediente e estava solto, a bater-me no rabo. Abri a porta e mandei-o entrar. Ele sentou-se no sofá, eu sentei-me no chão. Bebemos umas cervejas, fumámos uns cigarros, tocámos-nos. Ele tinha pressa, levantou-se para sair. Lembro-me da sensação de awkwardness, os dois de pé, no meio da sala, o silêncio desconfortável, as palavras de circunstância, e eu apenas a fazer o que faço melhor, a dizer tolices. Finalmente saiu, mas já na escada hesitava. Não sei o que me passou pela cabeça. Por uma vez na vida, perdendo o meu sempre tão fiel auto-controlo, puxei-o por um braço, fechei a porta atrás dele e encostei-o com força à parede. O que se passou a seguir ele o saberá, eu não tenho a certeza. Minutos, segundos? Quando caí em mim, gritei-lhe que se pusesse na rua. Foi um dos momentos mais frustrantes da minha vida, mas também, esteticamente, um dos mais perfeitos. Se fosse hoje, fazia igual, nem menos, nem mais, porque a perfeição não pode ser acrescentada.

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