quarta-feira, 29 de julho de 2009

Se eu largar sinto a sua falta, se eu agarro ela perde a cor

Recordo a minha infância com grande saudade, porque fui muito, muito, muito, feliz. Fui um anjo loiro. Fui uma criança de uma beleza, graça, serenidade e paciência incomparáveis (tudo passa, meus amigos, tudo passa, até a uva passa). Podia passar horas e horas concentrada nas tarefas ou observações mais fúteis. Adorava caçar borboletas. A sensação de prender uma borboleta entre os dedos e senti-la a debater-se para se libertar é deliciosa e só comparável ao bater de pestanas contra a pele. Claro que só muito mais tarde é que percebi que isso dava cabo delas (não fui uma criança sádica...). Daí que um dia corri atrás de uma borboleta lindíssima durante mais que tempos, frente a uma plateia aparentemente embevecida, composta por vovó, vovô e mais uns quantos velhotes. Eu já devia estar um tanto ou quanto exasperada, de tal maneira que um dos senhores, um mudo que nunca falava com ninguém (hum... tá.... que não interagia com ninguém, melhor dizendo) se levantou, tirou o chapéu (nesse tempo e nesse sítio, os senhores mais velhos ainda usavam chapéu), apanhou a borboleta com o chapéu e ofereceu-ma. De tantos episódios da minha infância, este foi o que me veio à cabeça hoje, enquanto ouvia isto.

Sem comentários: