quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Viver depressa, morrer jovem, fazer um cadáver bonito

Estou anestesiada de cansaço. Tenho demasiado sono até para dormir. Neste estado ou me dá para rir histericamente sem razão, ou me dá para ter ideias parvas. A saber. Será que uma pessoa tem o direito de morrer? De se matar, I mean. Mesmo que seja a 200 contra uma árvore. Mesmo que não seja propriamente de propósito.
Lembras-te daquele Verão em que tiveste o primeiro acidente? Alguém me telefonou e disse "Tem calma. Ainda não foi desta". Ainda? Ok, pensamentos mais felizes. Passaste esse Verão deitado na cama, perna estendida, parafusos do lado de fora da carne. Passei horas contigo, os dois estendidos na cama, a tocar viola, a escolher o teu novo carro, etc., etc., etc. Quando não estava contigo passava o tempo a ler as tuas cartas e a escrever para ti. Perdi essas cartas, tenho de tentar resgatá-las. Que escrevíamos nós um ao outro? Parvoíces de adolescentes. Onde estarão as cartas? Lembro-me também o que me disseste numa dessas tardes. "Não tenho medo de morrer". Que bom para ti!
Estragaste tudo. Bastava teres insistido um bocadinho mais. E se agora me custa, nem podes imaginar como foi aos 20 anos.
Se estivesses aqui agora, se te pudesse contar como sou eu hoje, se te pudesse dizer que acertaste, como sempre, em todas as coisas que disseste que eu ia ser. Mas como seria eu hoje se não tivesse acontecido? Quero muito acreditar que estaríamos em Nova Iorque, ou quem sabe Las Vegas, a curtir milhões e a viver aquilo para que nascemos. Assim, sou só mais uma no meio da multidão, e tu és só uma lembrança triste. O mundo mudou, o meu mundo mudou. Continuo a ser a pessoa mais incoerente do universo, continuo a confundir as palavras egoísta com invejoso, continuo a olhar para as pessoas quando falam comigo daquela maneira que só tu reparavas, continuo a gostar de andar depressa, continuo a cometer os mesmos erros vezes sem conta. Mas alguma coisa se perdeu algures, e tenho muito medo de nunca a vir a recuperar. Saber que eras a minha rede e que estavas lá de cada vez que eu caísse ajudava. Contigo dava sempre certo, tinhas a solução para tudo.
E sim, finalmente acredito que era a sério.
Amaste intensamente, viveste intensamente. Ninguém pode pedir mais nem melhor. Até prova em contrário, és o único de nós eternamente jovem.

2 comentários:

Rita Catita disse...

Há coisas que eu não consigo explicar!!Há meses que te ouço falar no blog e só agora me deu para vir aqui...e qual o primeiro post que leio?!Fantástico...

Em primeiro lugar deixa-me dizer-te que o anjo está sempre contigo, sabe como tu és agora, o que vives, as tuas dúvidas, os teus medos, as tuas asneiras...está sempre a olhar por ti..pelo menos é no que eu acredito!
Como serias hoje se não tivesse acontecido?? Se calhar não terias crescido tanto, se calhar não tinhas conhecido as pessoas que conheceste...as coisas acontecem por alguma razão.

Tu não és mais uma na multidão, tu és "A" no meio da multidão...
Ele...uma lembrança triste?? Não! É das lembranças mais felizes da vida de muita gente, e acredito que na tua também...

Nina disse...

Estou em estado de choque. Realmente não se explica. OBRIGADA, do fundo do coração!