quarta-feira, 8 de agosto de 2012

When you're a kid

Quando somos miúdos há uma data de coisas que nos estão interditas. Tipo piadas, públicas e privadas, e histórias e coisas parvas em geral. Depois passado um tempo contam-nos e não percebemos muito bem qual era a grande graça, ou porque realmente não tem nenhuma, ou porque achámos que era a estrada de Damasco e afinal era a estrada para o Cacém. Ou então somos paranóicos e ficamos com a sensação que nos estão a enrolar e que não nos querem contar a verdade toda. É o tipo de coisa no nível do inconsciente, que não dá para apagar e colar por cima. No caso da minha irmã era o singelo 'tem grelinhos, tem grelinhos, tem grelinhos no quintal, etc.'. Vá-se lá saber porquê, meteu na cabeça que era uma ordinarice qualquer (se calhar porque não conseguíamos cantar isto sem nos rirmos como o caraças, mas era só porque era realmente uma parvoíce do caralho) e ainda hoje se alguém cantarola a musiqueta dos grelinhos ela fica claramente incomodada, embora a nível consciente saiba que não tem nenhum truque, nem mensagem subliminar, nem ordinarice. É mesmo só uma parvoíce do caralho. Freud explicará. No meu caso foi a mais que célebre história da carcacinha. Uma história tão estúpida, mas tão estúpida, que nem me vou dar ao trabalho de reproduzir. Mas de cada vez que alguém dizia 'isso é como a história da carcacinha' eu percebia (ou achava que percebia) uma certa troca de olhares e ficava com a sensação desconfortável de que havia qualquer coisa com a carcacinha. De maneiras que um dia me contaram a história da carcacinha e ou ma contaram muito mal, ou se tinham esquecido de como era realmente a história e tiveram de inventar à pressa, ou então enrolaram-me e não me quiseram contar a verdade toda. O que é certo é que hoje sou uma pessoa adulta e sei perfeitamente onde fica o Cacém.

Sem comentários: