terça-feira, 27 de abril de 2010

Gosto muito de ir visitar a minha avó quando faz sol. Posso fazer o caminho todo a pé e atravesso a parte da cidade de que mais gosto. Quando chego ao bairro dela meto-me pelos becos onde os de fora não entram. As ruas são tão pequeninas que se abrir os braços toco nas paredes dos dois lados. Cheira sempre a roupa lavada. Em dias de calor como hoje, as mulheres trazem cadeiras e fogareiros para a rua e por ali ficam a cozinhar e a descansar, de batas às florzinhas e chinelos de quarto. Os donos da rua escondem maços de notas nos buracos das fachadas, ou debaixo das pedras da calçada, à vista de toda a gente. As tascas são buracos escuros com letreiros escritos à mão, cheios de erros de ortografia, e cheiram a vinho mau. Chungas, malandros, bandidos, putas, taberneiros, velhos, crianças. E imagino que é hoje exactamente como o era há quinhentos anos atrás.

2 comentários:

Unknown disse...

muito mais de 500 anos.. no tempo dos mouros

Nina disse...

precisamente! e o bairro é....???